Série

TRIBUTOS À HUMANIDADE

Prof. Dr. Mário Carabajal* 

Doutor em Ciências Educacionais

Mestre em Relações Internacionais

 

“LIVRES PENSADORES COM RESPONSABILIDADE CRÍTICA À FORMAÇÃO DE OPINIÃO”

 

Os textos assinados pelo General de 4 Estrelas, Maynard Marques de Santa Rosa, em  Março  de  2023,  sob  o  título  “31  DE  MARÇO  DE  1964  –  PATRIOTISMO, DECISÃO E CORAGEM” – oferece uma narrativa que busca justificar o golpe militar de 1964 e reinterpreta eventos históricos sob uma ótica que merece uma análise crítica. Abaixo, discorremos em pontos de contestação e reflexão fundamentados no contexto histórico:


Narrativa de “Salvação Nacional”

O  autor  caracteriza  o  golpe  militar  como  uma  reação  necessária  ao  “caos institucional” e à “ameaça comunista”. No entanto, a historiografia brasileira amplamente reconhece que o golpe foi uma ruptura democrática promovida por elites políticas, militares e empresariais em conluio com os interesses dos EUA, dentro do contexto da Guerra Fria.

  • O   “perigo   comunista”   foi   amplamente   exagerado   como estratégia de propaganda para justificar o golpe. João Goulart, ainda que promovesse reformas sociais progressistas, como as reformas de base, não liderava um projeto de  implantação de regime  comunista, mas buscava maior equilíbrio econômico e social.

Crescimento Econômico e “Milagre Brasileiro”

Embora o texto destaque o crescimento econômico durante o regime militar, é essencial mencionar que esse crescimento foi acompanhado por:

  • Endividamento  externo  massivo:  A  política  econômica  do regime  gerou  uma  crise  fiscal  profunda  nos  anos  1980,  culminando  na chamada “década perdida”.
  • Aumento     da     desigualdade:     O     “milagre     econômico” beneficiou  desproporcionalmente  as  elites,  enquanto  a  população  mais pobre enfrentava dificuldades crescentes.
  • Repressão   e   censura:   A   supressão   de   liberdades   e   a perseguição de opositores criaram um ambiente de medo que mascarava críticas legítimas à gestão econômica.

 

Repressão e Violação dos Direitos Humanos

O autor omite que o golpe de 1964 inaugurou um regime marcado por:

  • Tortura sistemática, assassinatos e desaparecimentos forçados de opositores, amplamente documentados pela Comissão Nacional da Verdade.
  • Cassação de mandatos políticos e fechamento do Congresso Nacional, revelando a contradição da afirmação de que Castello Branco governou sob a “plena vigência da Constituição”.

Comparação com o Regime Stalinista

O autor equipara críticas ao regime militar à supressão de memória histórica no regime de Stalin. Essa comparação é desproporcional e não reflete a realidade. Não há tentativa de apagar a memória de 1964, mas sim de expor e discutir criticamente os abusos do regime, como qualquer sociedade democrática deve fazer.


Distorção sobre os Eventos de 8 de Janeiro de 2024

A menção aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2024 reflete uma tentativa de deslegitimar um governo eleito democraticamente e relativizar atos de vandalismo e invasão,  que  não  podem  ser  equiparados  à  livre  manifestação.  Esses  atos  foram amplamente condenados por todos os setores democráticos da sociedade.


Ausência de Autocrítica

O texto glorifica o regime militar, ignorando os aspectos mais problemáticos, como:

  • O impacto negativo da censura cultural e intelectual.
  • A corrupção, que também ocorreu durante a ditadura, embora fosse abafada pela falta de liberdade de imprensa.
  • A falta de um projeto de transição democrática e desenvolvimento sustentável.”

Não  pode-se,  pelo  corporativismo,  militar  ou  de  segmentos  civis, buscar-se alternativas ‘criativas’ para justificar o injustificável, como o golpe militar de 1964. Essa sombra do comunismo à coerção manipulativa popular e  slogans  como ‘Deus,  Pátria  e  Família’  criada  e  utilizada  pelo  fascista Mussoline, amigo de Adolf Hitler, e adotada pelos militares orquestradores do  golpe  de  1964,  estão  perdendo  o  poder  de  persuasão  em  diametral distanciamento da despolitização dos povos.

Nos três últimos parágrafos de outro texto de Politico Militar Maynard de Santa Rosa, observa-se um verdadeiro chamamento a um novo golpe militar, onde os  ‘raios   fugidos’   à   luz   da   psicanálise,   remete   aos   clarões   resultantes de intervenção armada, com o emprego de armas de fogo, para restringir a liberdade de  escolha  democrática  e  popular,  dos  políticos,  sobretudo,  do  Presidente  da República.

Veja-se os referidos parágrafos:

Apesar das tênebras, no entanto, resta viva a semente plantada por milhares de anônimos que, na humildade da mensagem revestida da Bandeira  nacional,  traduzia  a  insatisfação  manifesta  com  os desmandos e o anseio por justiça, liberdade e autonomia.

Decorridos 59 anos do 31 de março de 1964, permanecem latentes os motivos de repulsa ao patrimonialismo atávico de um mecanismo renitente, e persistem frustrados os mesmos anseios das gerações anteriores.

Como  não  pode  um  sonho  intenso,  um  raio  vívido  de  amor  e esperança permanecer eternamente sufocado, após a catarse em curso e sob  o influxo do exemplo histórico, haverá novamente de brilhar  o  sol  da  liberdade  em  raios  fúlgidos,  para  que  o  Brasil reencontre o  caminho  da  fraternidade  e  do  progresso.” (General Maynard de Santa Rosa)

Os três parágrafos supra, assinados pelo General Maynard de Santa Rosa, em Março de 2023 (Mês do Golpe Militar de 1964), apresentam uma retórica que busca, por meio de metáforas nacionalistas e exaltadas, insuflar sentimentos de insatisfação  e  incitar  a  ideia  de  uma  nova  intervenção  militar.  Essa  narrativa, revestida  de  apelo  poético,  carrega  implicações  graves  para  a  estabilidade democrática e deve ser confrontada com clareza e firmeza.


Romantização e Manipulação Emocional

O autor utiliza expressões como “tênebras” e “um sonho intenso, um raio vívido de amor e esperança” para criar uma atmosfera emocionalmente carregada, evocando sentimentos de patriotismo e insatisfação generalizada. Essa estratégia, amplamente utilizada em discursos populistas, busca legitimar a narrativa de que o Brasil estaria sob uma grave ameaça que exige uma intervenção salvadora.

  • Essa abordagem ignora os avanços democráticos alcançados desde a redemocratização, como eleições livres, liberdade de expressão e o fortalecimento das instituições. Embora seja legítimo apontar problemas no sistema político, utilizar a insatisfação popular como justificativa para um golpe é incompatível com os princípios democráticos.

Insuflação Velada à Subversão

Ao  afirmar  que  “permanecem  latentes  os  motivos  de  repulsa”  e  que  “a semente plantada por milhares de anônimos […] traduzia a insatisfação”, o autor sugere que há uma base legítima para descontentamento popular que poderia justificar uma ruptura institucional. Isso é reforçado pela referência à “catarse em curso”, que pode ser interpretada como uma alusão aos atos antidemocráticos recentes.


Origem da Psicossugestão ‘ao 8 de janeiro’

Maynard  de  Santa  Rosa  propõe  distorcer  as  verdadeiras  origens  das constantes, inumeráveis e contundentes psicossugestões manipulativas, isto sim, de inocentes vítimas de uma politica inescrupulosa ‘fascista’ – culminando no 8 de janeiro – ao direcionar à “anônimos” a orquestração organizacional do ‘pano de fundo’  ao  ‘neogolpe’  de  2024  –  só  não  efetivado  pela  lucidez  e  consciência democrática do alto comando do Exército e da Aeronáutica.

Essa retórica do  perigosa, pois busca normalizar a ideia de que um golpe é uma  solução  plausível  para  os  problemas  do  país.  Essa  narrativa  contraria  os princípios constitucionais que garantem a soberania popular por meio do voto e o respeito às instituições democráticas.


Possível envolvimento de articulação de Maynard de Santa Rosa com a tentativa de Golpe

Sob a luz da psicanálise, somos inclinados a acreditar, especulativamente, no envolvimento do General Maynard de Santa Rosa, na cúpula de defesa do novo golpe. Seja por suas abordagens literárias de inequívocas convicções de exaltação ao golpe de 1964; seja, por ter se afastado do governo anterior de Lula por repulsas à  ‘Comissão da Verdade’ instalada para apurar os crimes cometidos, contra civis, no período da Ditadura Militar; seja, por ‘demonstrar’ saber, ter o General Heleno (GSI  de  Bolsonaro),  envolvimento  direto  com  a  tentativa  de  golpe,  ao  projetar iminente prisão de Augusto Heleno – o que poderá resultar plausível acordo de delação,  envolvendo  Maynard  de  Santa  Rosa.  Logo,  o  inteligente  faccionado político   militar,   General    Maynard,    em    nossa    responsável   análise    crítica, fundamentada  em  seus  textos  e  histórico,  antecipa-se,  atirando  para  todos  os lados, em especial contra o STF, na tentativa de inibir o austero escritor Imortal e Ministro Alexandre de Morais, como as naturais evoluções e desdobramentos de investigações que possam chegar a ele (Maynard) e ao Ex-Presidente Jair Bolsonaro.


Referência ao “Exemplo Histórico

O autor dos textos de nossas críticas, menciona o “exemplo histórico” de 1964 como inspiração para um futuro de “fraternidade e progresso”. Essa referência é  uma  tentativa  clara  de  romantizar  o  golpe  militar,  apresentando-o  como  um modelo a ser seguido. Logo, induzindo psicossugestivamente, a sua repetição – o que, em nossa análise, constitui-se em flagrante ‘crime de indução à violência contra  a  ordem  democrática’.   Devendo,  o  mesmo,  em  primeira  instância,  ser advertido de estar encorajando e incitando a população w militares a repetirem o comprovado erro de 1964, com a ruptura institucional e instalação nefasta Ditadura Militar.

A história brasileira e mundial demonstram que a ditadura resultante do golpe   de   1964,   como   também   governos   fascistas,   nazistas,   comunistas   e autoritários,  ao  redor  do  Mundo,  não  conduzem  à  fraternidade  ou  progresso duradouro. Ao contrário, a ditadura vivida pelo Brasil, com início no golpe de 1964, instaurou um período de repressão, censura, desigualdade e endividamento. Usar essa experiência como modelo é desonesto do ponto de vista histórico e ignora o sofrimento das vítimas do regime. Mas, por ser Maynard militar, o entendemos em seu  corporativismo.  Ainda  que  grande  verdadeiramente  seria,  ai  admitir  haver participado de um regime nocivo ao princípio fundamental da existência – viver – ao aplaudir um período de total insegurança ao cidadão livre e de bem, capaz de pensar, sem radicalismos ou extremismos, sem se deixar induzir – só brasileiro e intelectual, como característica principal da personalidade das vítimas da ditadura militar – a qual – para a felicidade do povo brasileiro, haverá se manter somente na garganta e vontade de emergir, sem contudo, jamais submeter o inteligente povo brasileiro ‘… de Nordeste à Leste! Sul, Sudeste! Norte – Centro-oeste! Salvas à liberdade!


Perigo de Subversão Contemporânea

Frases  como  “haverá  novamente  de  brilhar  o  sol  da  liberdade”  nega  a liberdade daqueles que, livres, por meio do voto, manifestaram-se nas urnas, além de  sugerir  um  futuro  em  que  a  “solução”  contra  a  liberdade  eletiva  popular, encontra-se na mobilização da minoria derrotada nas urnas a uma intervenção que subverta  a  ordem  democrática.  Essa  indução filósofo-manipulativa  do  General Maynard de Santa Rosa firma-se como uma mensagem alinhada com discursos fascistas, comunistas e autoritários que tentam desestabilizar governos eleitos democraticamente.

Essa retórica, utilizada por Maynard, militante ativo de inequívoca facção do bolsonarismo radical, viola o artigo 5º da Constituição Brasileira, que garante a democracia, e o artigo 34, que prevê a intervenção federal para reestabelecer a ordem democrática em caso de tentativa de ruptura, como dedica-se o competente STF do Brasil. Flertar com a ideia de golpe ou ruptura institucional é uma afronta aos pilares do Estado Democrático de Direito, constituindo-se em crime, cometidos por seres que desconhecem limites de liberdade e princípios básicos de onde, de fato, emana todo poder de uma Nação – onde o mais singular cidadão, somará, seu voto, para colocar por terra a ambição daqueles que desconhecem outro poder, senão as armas, mentiras e manipulações da fé,  como os puros conceitos de Deus, ou até mesmo o amor à Pátria e a Família, além da apropriação, como o fez o fascismo de Mussoline, sobre as cores nacionais de uma linda bandeira, ou máximas de um Hino, o qual, de fato, nos conduz com coragem, a exaltar e perseguir a liberdade ‘sem armas’ – somente com responsabilidade, comedição e insistente busca da sabedoria e verdade.

O texto do bolsonarista General Maynard de Santa Rosa é um exemplo claro de discurso subversivo travestido de patriotismo. Utilizando metáforas poéticas e apelos emocionais, o autor insufla a insatisfação popular e defende, de forma velada,  a  ideia  de  uma  nova  ruptura  democrática.  Essa  narrativa  deve  ser amplamente denunciada como uma ameaça à democracia brasileira, que, apesar de contar com imperfeições, é o único caminho legítimo para resolver os desafios políticos e sociais do país. Fundamental reafirmar-se que a liberdade e a justiça só podem ser alcançadas no respeito à soberania popular e ao estado democrático de direito.

Embora reconheçamos o pensador Maynard de Santa Rosa inteligente em sua construção  argumentativa,  suas  produções  intelectuais  refletem  uma  insistente  e persuasiva visão revisionista e idealizada do golpe de 1964. Historicamente, é necessário reconhecer que o golpe foi uma ruptura democrática que trouxe consigo profundas consequências políticas, sociais e econômicas negativas. Em uma democracia, a revisão crítica do passado é fundamental para evitar a repetição de erros e para promover um futuro baseado na justiça, liberdade e igualdade, com responsabilidade.

 

*Prof. Dr. Mário Carabajal, Livre Pensador: Educador Físico (UFAM); Professor Federal. Escritor e Jornalista. Cineasta (AICRJ). Especialista em Pesquisa Cientifica (UFRR); Mestre em Psicossomatologia/ Psicanálise (ESPCRJ); Mestre em Relações Internacionais (UAA); Doutor em Psiconeurofisiologia (ESPCRJ); Doutor em Ciências Educacionais  (UAA); Ex-Consultor do Ministério da Saúde (Departamento de Doenças Crônico-degenerativas); Unicamp (Departamento de Motricidade Humana – Ex-Dir. Antônia Dalla Pria Bankoff). Ex-Consultor do Ministério Extraordinário dos Esportes (Dep. Exercício Físico e Saúde. Ex-Professor de Pós-graduação ‘Universidade Gama Filho/RJ – FACETEN/RR, em: Fosioterapia; Neurocognição; Bases Neurocientíficas do Comportamento Humano e da Aprendizagem; Psicomotricidade Humana; Clinica I e Clinica II. Comendador, Crítico Literário, Critico de Cinema. Diretor Presidente/ MarDin Filmes Copacabana. Presidente Fundador/ Academia de Letras do Brasil ‘Da Ordem de Platão’. Indicado à Academia Suéca para concorrer ao Prêmio Nobel de Literatura/2023.

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